Teatro Amazonas e seus Fantasmas
Eu me lembro como se fosse ontem. Em meados da copa do mundo de 2014, estava eu, retornando em meu humilde sandero para casa após um jornada longa, mas produtiva de trabalho, quando passei ao lado de uma banca de revistas. Uma das coisas que me chamou atenção logo de cara foi um edição da revista MEGA CURIOSO, que estampava em sua capa reluzente o seguinte título em letras garrafais: "20 dos locais mais assombrados do Brasil". Eu, naturalmente fanático por tal tema, não consegui conter minha necessidade de folhear algo do tipo e levei a dita cuja revista para casa. Após o velho ritual, jantar, banho , latinha de cerveja, cai de cara na revista e depois de ler algumas páginas, fui surpreendido com o 4º local citado como mal assombrado. O ilustre "Teatro Amazonas", localizado no centro da cidade de Manaus.
Naturalmente, fui pego de surpresa. Como todo bom amazonense e amante de histórias de pescador, pensei que soubesse praticamente de todos os casos famosos sobre assombrações ou mistérios envolvendo a cidade de Manaus, masssssssss.....só que não.
Inaugurado em 1896, poucos imaginavam que o Teatro Amazonas pudesse se tornar quase tão obscuro e ameaçador quanto a própria selva que o cerca.
Anyway, pesquisando mais a fundo o tema e até mesmo conversando com alguns conhecidos que trabalham no local, descobri muita coisa interessante e, como já dizia o ator Aldemar Bonates nos idos de 1960: Toda ópera que se preza, tem o seu fantasma.
Fantasmas nos Camarins
Nos camarins e camarotes, artistas e frequentadores costumam queixar-se do sumiço de objetos que, inexplicavelmente, aparecem de repente em outro lugar. Isso sem falar nos vultos um tanto quanto anormais. Nas noites sem apresentações, a grande estrutura acústica permite que gritos e gemidos fantasmagóricos sejam reverberados, para desespero dos funcionários que frequentemente pedem demissão
Porém o acontecimento que mais assusta tem a ver com a morte de um pianista. Durante um ensaio, o músico caiu do palco e morreu no mesmo local. E testemunhas afirmam: não é raro ouvir a 5ª Sinfonia de Beethoven sendo tocada em tons suaves e assustadores. Caso queira conhecer o teatro, o ingresso e a valentia ficam por sua conta.
Um Funcionário, a testemunha Viva
Ainda hoje são muitos os causos envolvendo espíritos e aparições nas dependências do prédio histórico, e uma referência no assunto sem dúvida é o cenotécnico Raimundo Nonato, funcionário mais antigo da casa de ópera. Ainda assim, ele prefere tomar algumas precauções para não levar sustos ao dobrar um corredor. Uma delas é, ao sinal de alguma presença suspeita, nunca olhar para trás por cima do ombro, e sim virar o corpo todo.
Aos 81 anos – 43 somente de Teatro Amazonas – ele conta que chegou ao local como pedreiro da Odebrecht durante a grande reforma de 1974. Depois disso, assinou um contrato de três meses para trabalhar no teatro e está até hoje por lá. “O pessoal fala muito em fantasma, mas eles nunca me perturbaram. Eu nunca vi nada muito assustador, sinceramente, mas é uma coisa em que eu acredito”, afirma.
“Teve uma época em que eu passava no terceiro andar e sentia um calafrio. Até que chamaram aqui um senhor que trouxe um aparelho, e quando ele foi ao terceiro andar o negócio tremia na mão dele, gelada que nem pedra de gelo. Ele me disse: ‘Meu filho, a corrente é muito forte, mas é boa’. Agora eu passo a qualquer hora e não estou nem aí”, recorda Nonato.
Em outro caso, o cenotécnico conta que o teatro teve três dias de casa lotada, com todas as cadeiras vendidas. Curiosamente, em nenhum dos dias o ocupante da cadeira 13 apareceu para assistir à apresentação. “A gente até levava espectadores para sentar lá, mas eles nunca ficavam. Quem sabe já não estava vindo alguém?”, questiona.
Nonato também enumera as vezes em que acontecimentos cheios de mistério foram motivo para funcionários pedirem demissão. Foi o caso de um vigia que não se recuperou depois de ter visto algumas assombrações flanando pelo lugar.
“Nos anos 90 tinha uma companhia de conservação que prestava serviço aqui, e aos sábados os funcionários saíam cedo e podiam trazer seus filhos. Uma dessas crianças entrou num banheiro do terceiro andar (sempre ele!) e depois só ouvimos o grito. Quando chegamos lá ela estava ardendo em febre”.
Um livro sobre o Assunto
Quem se debruçou sobre essas histórias de fantasma contadas por
Raimundo Nonato foi o jornalista Antônio Carlos Junior, autor do livro “Dos
fantasmas ao tacacá: uma visão sobre o Largo”, publicado pela Prefeitura de
Manaus em 2011. O trabalho nasceu depois que o amazonense foi selecionado para
participar do programa Rumos Itaú Cultura, que na época contava com uma
categoria para estudantes de jornalismo.
“Escrevi uma matéria chamada ‘Os fantasmas de
cada um’, que foi o embrião desse livro. A ideia da obra é mostrar esse mosaico
em torno do Largo São Sebastião, passando pelo Teatro Amazonas, Bar do Armando
e outros. É como se a praça tivesse uma personalidade. O lado místico está
representado pelas histórias sobrenaturais que envolvem o teatro”, explica.
Uma das
primeira histórias que ele ouviu do “seo” Caldas foi sobre uma loira
misteriosa, que certa vez surgiu na frente do iluminador. Ela estendeu a mão, e
quando ele foi cumprimentá-la, ela desapareceu tão misteriosamente quanto
aparecera.
Em outra ocasião, ainda no Teatro Amazonas, o funcionário avistou em uma das frisas um homem de bata preta, ao estilo do século 19, que também cumprimentou Caldas com um aceno de cabeça. “E o Caldas era tão amigo dos fantasmas que quando ele foi trabalhar no Américo Alvarez alguns foram junto”.
Jeito para Fantasma
Foi o escritor Márcio Souza quem registrou, em um artigo publicado nos anos 90, a frase de Aldemar Bonates, ex-administrador do TA, de que toda ópera que se preza tem fantasmas. Márcio admite ser cético diante do assunto, mas não nega sua crença na fantasia.
O primeiro contato dele com esses fenômenos foi em 1965. A atriz Glauce Rocha estava em Manaus com a peça “Um uísque para o Rei Saul” e, enquanto ensaiava no palco, um dos contra-regas do espetáculo soltou um grito que alarmou toda a equipe. Segundo o relato, ele vira um cavalheiro em trajes de época atravessar a parede depois de lhe dirigir um cumprimento. A mesma figura teria aparecido para a pianista Gerusa Mustafa durante um solitário ensaio no local. Ao fim de uma das músicas, ela ouviu aplausos vindos da plateia. Quando se virou, conseguiu avistar um espectro, que as histórias diziam pertencer a um ator italiano vítima da malária durante sua passagem por Manaus.
Márcio Souza também lembra que quando o TA entrou em reforma, nos anos 70, o Tesc resolveu encenar um espetáculo à meia-noite, para o qual foram convidados os fantasmas da casa de ópera.
Assim, o teatrinho da rua Henrique Martins poderia se tornar a morada provisória daqueles espíritos enquanto durassem as obras. “Digo que aceitaram o convite, porque o incrédulo ator Moacir Bezerra, depois de declarar que não acreditava em fantasmas, teve uma prova cabal de que eles estavam todos lá, e com o senso de humor teatral afinadíssimo”, escreveu Souza, que espera se juntar ao elenco de espíritos do TA quando for a hora.
Experiência Pessoal
Fui algumas vezes ao Teatro Amazonas mas claro, nunca aconteceu nada que chamasse tanta atenção nesse sentido. Mas uma coisa posso dizer a vocês, quando as luzes se apagam, o local ganha um ar beeeeem tenebroso. Seja pela arquitetura histórica, ou pelas histórias e casos assombrados, é inegável que de certa forma, o local dá um certo medo.
A ultima vez que visitei o local creio que foi em 2003, sim , faz bastante tempo que não vou lá. Lembro que foi um evento promovido pela secretaria de cultura do Amazonas, onde promoviam peças teatrais com atores famosos, de graça para a população ou algo parecido. Nesta peça em particular, nada mais, nada menos estrelada pela Patrícia Pillar.
Como o evento foi gratuito, o teatro ficou bem lotado neste dia. Por isso corri para ser um dos primeiros da fila e tentar um local melhor para ver a peça, um camarote. Sim, consegui um camarote onde dividi com mais 4 pessoas, mas manolo, para chegar neste camarote é que foi um pouco tenso.
O espetáculo estava para começar e lembro que caminhava por corredores intermináveis no meio de um escuro sem fim e, sim, deu um frio na espinha. Principalmente porque fazia mil anos que não entrava naquele local, é gigante e você se perde facilmente dentro dos corredores. O estranho é que o teatro estava lotado, mas onde eu me encontrava, estava um total silêncio e a impressão era que estava beeeeemmm sozinho , e isso me incomodou um pouco. Caminhava e não conseguia enxergar as mãos em minha frente, tentava tatear algo para apoiar e frequentemente esbarrando em mesinhas colocadas para adorno. São 3 andares de corredores compridos e escuros. Após saber que era considerado assombrado, lembrei imediatamente deste dia, e o quanto foi difícil e pouco agradável me perder no meio daqueles corredores.
Fonte: Rosiel Mendonça - Resenha Jornal Á Crítica -Manaus
Teatro Amazonas: Funcionários Teatro Amazonas.
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